terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Um cenário na eternidade...


Por Jânsen Leiros Jr.

I – História das origens do universo e da humanidade (1:1 – 11:32)
A.   A criação do universo e da vida (1:1 – 2:3)

Capítulo 1

Ainda na eternidade...

2 A terra, porém, estava[1] sem forma e vazia[2]; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas[3].


[1] (1:2) estava, hebr. hayetâ

Alguns teólogos e exegetas sugerem que a tradução aqui pode ser “tornou-se” como em Js. 14:14; Sl. 114:2 e Jr. 12:8 (Alfalit). Esta palavra, contudo, não se encontra assim traduzida, neste versículo, em nenhuma versão em português, nem mesmo na própria Bíblia Alfalit. É ainda pouco provável e aceitável tal tradução, uma vez que a expressão hayetâ é utilizada como predicativo, sugerindo condição anterior já não existente: “A terra estava...”, ou “A terra era...”.

[2] (1:2)  sem forma e vazia, hebr. tohû e habohû

As outras duas vezes em que estas palavras aparecem em conjunto no texto bíblico, são em Is. 34:11 e Jr. 4:23. Segundo algumas traduções transmitem, respectivamente,  a idéia de destruição e ruína sempre em conseqüência do juízo divino. Há uma corrente do pensamento teológico que vê aqui um registro sub-reptício de que a terra tenha sido destruída pelo Senhor, quando da rebelião de Satanás e seus anjos (Is. 14:12 e Ez. 28:12). O verso 2, então, seria a narrativa da recriação do planeta, como defende o Conceito da Recriação, já citado anteriormente.  Tal teoria tenta lançar alguma luz sobre como se teria dado o juízo de Deus contra Satanás e suas conseqüências no planeta.

Há porém algumas considerações a se fazer, levando-se em conta  alguns princípios sistemáticos no âmbito das revelações contidas na própria narrativa da criação, com ajuda de alguns outros trechos do Antigo Testamento.

a)    Considerar que a primeira criação possa ter sido destruída por ocasião da rebeldia de Lúcifer, implica em entendermos uma certa frustração nos planos divinos, uma vez que após todo o trabalho criacional, por conta do diabo, Deus seria obrigado a exercer juízo e destruir toda a sua criação a ponto de deixá-la um caos, para o qual, segundo Isaías, ela não foi criada (Is. 45:18).

b)    Caso isso fizesse parte dos planos de Deus, que relação teria com a humanidade, que foi e é o objetivo final da criação? Teria sido um fato totalmente sem aplicação para a vida do homem, não servindo sequer de exemplo, uma vez que tem como protagonista um ser essencialmente diferente do homem. É importante frisar que não encontramos em toda a escritura, fato algum sem propósito claro e bem definido. Nenhum grande princípio relevante para o relacionamento da criatura com seu criador deixou de ser revelado e constar neste livro sagrado. Não há revelação de relevância salvífica que já não tenha sidoexplicitada na Bíblia (ver Gn. 40:8; Dn. 2:28 e Am. 4:13).

c)     Pode-se considerar ainda, que a rebeldia de Satanás não parece ter relevância alguma nem mesmo para o próprio Deus, uma vez que toda a criação é concluída numa narrativa positiva de perfeita adequação ao Seu propósito. Até a Queda do homem não parece haver sombra alguma do mal pairando sobre a criação.

A expressão, portanto, mais indica a condição inicial de alguma matéria-prima criada por Deus, de cujos elementos o Criador se encarregaria de usar para formar e fazer toda sua criatura (Is. 43:7), como um artista plástico. Podemos ainda comparar tal circunstância com a gestação de uma criança, onde no útero materno, até o início da formação do embrião, há um cenário informe e vazio.

Tal interpretação empresta maior relevância e conteúdo revelador da pessoa de Deus, uma vez que indica comparativamente o início de um processo gestacional do planeta, onde o Criador cuidará zelosamente para que tudo que antes tinha uma aparência de desolação e ruína, viesse a ser muito bom (Gn. 1:31), anunciando o poder restaurador de Deus e sua capacidade de trazer ordem ao caos.

[3] (1:2) Espírito de Deus, hebr. veruach Elohiym

A palavra ruach do hebraico, pode significar “espírito”, “vento”, “alento”, “respiração”, “ânimo” e “brisa”. Tais possibilidade vêem se alternando nas versões brasileiras, sem muito prejuízo ao sentido do texto, pois “...de Deus” é qualitativo de “ruach” e pairava dá a entender ação inteligente e voluntária, que não poderia ser exercida pelo vento, respiração ou alento. Mas se contextualizarmos a expressão, entendemos que se trata do Espírito Santo, uma vez que é citado para indicar que em todo aquele estado de caos e vacuidade em que a terra se encontrava, Deus estava presente e preparando uma mudança radical para aquela circunstância. Dizer que o Espírito de Deus pairava... significa que seu poder realizador estava presente, preparando tudo que iria existir em seqüência. Denota acima de tudo total envolvimento de Deus com sua criação.

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